Nas profundezasKristen Stewart está agitada. Atrasada para uma entrevista (1 hora e meia, para ser mais precisa), com o cabelo um pouco sujo e um pouco embaraçado, ela corre para a sala de chás do Hotel Bel-Air como se ela estivesse fugindo de uma briga de rua. E de certa forma, ela estava.
Ela senta em uma poltrona, coloca o celular e a carteira de Parliaments (cigarros) na mesa, ela parece quase que inconsolavelmente frustrada e até um pouco distraída. Ela se perdeu, explica. Tentando encontrar o hotel, ela ficou totalmente sem norte. Mesmo ela tendo nascido e sendo criada em Los Angeles.
Recapitulando, quando Steward fala “eles” ela quer dizer os paparazzi: os 15 fotógrafos que estão acampados no jardim da casa dos pais dela, mesmo que agora vários deles estejam estacionados do lado de fora do Bel-Air esperando ela sair. E tem também outra palavra que a definição de Kristen pode variar da normal: “pessoas”.
“Eu amo a Kristen!! Ela é tipo minha atriz preferida e não só por causa de Crepúsculo! Ela é demais e eu adoraria passar um tempo com ela, eu só queria que ela não fumasse, mas quem se importa, isso só afeta a ela… EU TE AMO KRISTEN!”
Não foi sempre assim. Antes de 21 de Novembro de 2008, dia em que a versão para as telonas da série de Crepúsculo chegou aos cinemas (a segunda, A Saga Twilight: Lua Nova estréia esse mês) e que uma legião de fãs que muito tempo esperou por isso fizeram de Kristen Stewart uma estrela do dia para a noite, ela era apenas uma simples atriz com probabilidade de sucesso.
Antes uma atriz mirim que fazia a sua transição para papeis mais maduros, mas de pouco destaque; Stewart tem uma combinação de menina normal com um jeito meio masculino, porém sexy e garota urbana moderna de bom coração; o que a torna um novo ponto de partida diferente das outras delicadas e femininas atrizes da sua idade.
Dentro ou fora da personagem, é muito mais provável que ela vista calça jeans e moletom de capuz do que mostrar as suas pernas ou evidenciar algum decote. Sua voz e maneirismo, também são igualmente menosprezados, nas telas ela pode ser tão seca e não se afetar com nada que as vezes passar a impressão de nem estar atuando. Se a sua trajetória como atriz tivesse sido diferente, essas qualidades poderiam ter levado ela a ser rainha dos filmes independentes – uma Parker Posey mais calada. Mas aconteceu que Stewart foi escolhida numa franquia de grande orçamento que, graças ao legado dos livros, já tinha um público enorme que instantaneamente se tornou ainda maior. Embora, Stewart tenha sido perfeitamente selecionada para o papel de Bella Swan, a quieta e dona de si estudante do ensino médio que se apaixona por Edward, o vampiro de 108 anos que abita o corpo de um lindo porém levemente anêmico adolescente (Robert Pattinson), ela está significativamente menos confortável na sua vida real como ídolo adolescente. E com a estréia de Lua Nova ela já tem garantida uma nova onda de pandemônio.
“Eu não sou uma contadora de histórias, mas eu amo palavras; eu adoro o efeito que elas tem,” ela disse, e ela lê ficção – atualmente Henry Miller.
Além do mais, é difícil ser entediante quando você é inteligente o suficiente para escolher papéis interessantes em filmes interessantes (seu papel como a problemática trabalhadora de um parque de diversões no filme da última primavera Adventureland foi bastante picante) e quando se interpreta Joan Jett (em um justíssimo macacão de couro) no filme ainda por estrear The Runnaways. É difícil ser entediante quando você trabalhou com diretores como Sean Penn (em Into the Wild) e Mike Figgs (em Cold Creek Manor) e quando com 11 anos de idade e em seu segundo filme, você interpretou a filha da legendária Jodie Foster (em O Quarto do Pânico), com quem você é sempre comparada.
Ainda assim, uma menina de 19 anos que abandonou a escola na sétima série (ela fez um programa de educação em casa com professores particulares) e que, segundo sua própria confissão, não é muito boa ao falar sobre si mesma pode ter mesmo alguns problemas se ajustando a sua vida de estrela cintilante. E a propensão de Stewart a falar precipitadamente as suas palavras, curvar os ombros, e re-começar as frases quando já estava no meio da sentença, não ajudou muito em sua reputação contínua de desajeitada.
Quando aceitava o seu prêmio de Melhor Performance Feminina no MTV Movie Awards em junho passado, ela conseguiu derrubar a sua estatueta de pipoca de ouro no meio do palco, com uma expressão de pavor passou pelo seu rosto quando ela virou para o público e falou
“Eu fui tão estranha quanto vocês acharam que eu seria!”.
E mais cedo esse ano, em uma participação no programa do David Letterman onde ela gaguejou e se atrapalhou e falou algo sobre ir digirindo até a Rússia (além de fazer o seu conhecido discurso “Eu sou na verdade muito entediante!”) ela causou uma série de deboches na blogosfera.
“Ao que parece, eu fui descoberta pela velocidade ou algo assim.” Stewart comentou da reação. “Eu sinto que eu se fosse lá e me sentasse e falasse ‘Hey! Como você está? O que você quer saber sobre mim?’ as pessoas iriam desligar a TV e falar tipo ‘Se livrem dessa garota.’… São só 10 minutos. Você tem que ser engraçada e bonitinha, e você tem que promover o filme, e não sei mais o que. Você tem que ser quente eu acho. Eu não sei, eu não sei.”
“Você tem que ver o meu irmão. Ele é tipo, raquítico. Nós dois somos muito magros”, ela disse.
Já quanto ao fato de que alguns olheiros de celebridades ficarem tão aborrecidos pela sua recusa em seguir as regras convencionais de andar descaradamente hiper feminina e glamorosa, Stewart tem pulso firme no assunto.
“Eu saio na rua e eu estou vestindo uma camiseta esquisita e o meu cabelo está sujo e as pessoas falam ‘O que ela tem de errado? Ela precisa investir em uma escova de cabelos’.Stewart afirma, sua voz se sobressaltando um pouco além do burburinho da sala de chás (interessantemente, ela está bem mais animada fora das tela do que dentro delas). Eu falo tipo “Vocês não entendem? Eu não sou essa garota. Tipo, eu nunca fui essa garota. Não é como se eu fosse arrumadinha no ano passado.”
Não, mas há um ano atrás ela não era ícone para milhões de meninas adolescentes (e uma quantidade enorme de mães) com as suas fantasias escondidas a respeito do amor vampiresco proibido. O conjunto de Twilight pode ter muitos temas misturados – divórcio, realocação, a silenciosa excitação de ser escolhida pelo cara que todas querem – mas em sua essência, Twilight é sobre a psicologia sexual da dinâmica do auto-controle. Se Bella e Edward consumarem a sua relação, ela corre o risco de se juntar a ele no mundo dos imortais. E porque ele a ama demais para deflorar ela, e ela ama ele demais a ponto de querer ser deflorada; o romance deles se mantém naquela delicada e doce linha entre o possível e o impossível, o início e o fim.
“Tem várias coisas (de vampiros) por ai, mas essa vai mais a fundo,” disse Stewart, que confessa que não era fã dos livros antes de assinar o contrato para Crepúsculo. “Mas é (mais do que) simples preliminares. Mesmo que aborde isso tão bem – o livro faz um belo de um trabalho com isso – a progressão é tipo, absurda. Mas é tudo pelos motivos certos. Você está sempre com a Bella. Você está no lugar dela e isso é uma experiência incrível. É viciante.”
“Eu leio essa história todos os dias,” ela disse quando perguntamos se Angarano ainda é seu namorado e se tem alguma verdade nos boatos com Pattinson. “Está em alguma matéria todos os dias, então não vamos colocar em mais uma matéria.”
E com isso ela nos dá um olhar decidido, quase frio que até faz você acreditar que um vampiro adolescente se apaixonaria por ela. Também deixa muito claro que não devemos pressionar muito no assunto da sua vida amorosa.
Muitas das auto-definições de Stewart são baseadas no que ela se opõe. Ela é rápida em contar o que ela não gosta ou não pode ou não quer fazer. Por exemplo: Conversinhas (“Você não pode esperar que alguém chegue a algum lugar com 10 minutos de conversa”), aulas de interpretação (“Isso teria me arruinado”), e a idéia de atores que fazem poses para fotógrafos:
“É a maior vaidade do mundo ver atores saindo de um prédio e ver como eles se portam na frente dos paparazzi.”
“Eu passo tanto tempo me policiando para não parecer desonesta sobre algo que eu seria capaz morrer por isso,” Stewart disse “Talvez eu me preocupe demais… eu me importo demais. E acaba sendo reportado como o contrário. E mesmo vendo essa (entrevista), eles pensarão Ah, ela quer que a gente saiba…”
“Eu não consegui entender a situação pela qual minha vida estava passando quando isso aconteceu” Stewart contou sobre o arremesso do troféu. “Foi tipo ‘Nããããããooo…’ todo mundo falou que foi muito cativante mas foi horrível.”
Se alguma frase é capaz de resumir o que é ser a Kristen Stewart (mas ela não aprovaria alguma coisa assim tão redundante), acho que seria essa. Tem alguma coisa inconfundivelmente charmosa – até encantadora – sobre o seu jeito desajeitado e bruto. Mas a falta de interesse de Stewart em parecer mais glamorosa ou competente – ou nesse caso também, mais familiar com as ruas de L.A.- pode fazer de sua vida mais difícil do que já é.
Ainda assim, quando se trata de ser uma menina de 19 anos, as boas notícias são as mesmas que as más: Não dura para sempre. Stewart vai crescer, e com alguma sorte ela vai conseguir o que ela quer. E com força de vontade talvez ela até pare de se procurar no Google.
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